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O que eu aprendi não investindo em Bitcoin em 2010.

 

05/2021

Por Ricardo Amorim

 

As criptomoedas vieram para ficar. Nem sempre tive esta certeza. Em 2010, enquanto o mundo ainda lidava com as consequências da Crise Financeira Global, soube da criação do Bitcoin, logo no seu início. Interessei-me e estudei sobre o assunto. Dois conceitos me chamaram bastante a atenção: uma regra fixa de criação de quantidade limitada da nova moeda e uma tecnologia de criptografia que permitiria que ela pudesse ser emitida, transacionada e guardada no meio digital, sem nenhum governo por trás (Blockchain).

 

O primeiro conceito me conquistou de cara. Naquele momento, era claro para mim que a única forma de evitar uma nova Grande Depressão seria que governos e bancos centrais em todo o mundo dessem estímulos fiscais e monetários em magnitude nunca antes vista. Em português claro, eles teriam de encher o mundo de dinheiro; como efetivamente fizeram nos anos seguintes e, mais recentemente, em escala ainda maior, em resposta à crise econômica causada pela pandemia do coronavírus.

 

Em sua essência, economia é uma ciência simples, apoiada em uma única regra: a busca do equilíbrio entre oferta e procura de qualquer coisa determina seu preço. Quando a oferta aumenta, o preço cai. O contrário acontece quando a oferta cai. Já, quando a procura aumenta, o preço sobe; e o contrário acontece quando a procura cai. Esta regra determina o preço de produtos, serviços, imóveis, salários (preço do trabalho), taxas de juros (preço do dinheiro), taxas de câmbio (o preço relativo entre duas moedas), etc.

 

Em função do aumento substancial da oferta de moedas como dólar, euro, real e tantas outras, eu sabia que o preço de todas elas em relação a outros ativos teria de cair. Dito de outra forma, o preço de ativos reais, como imóveis, commodities, ações de empresas, metais preciosos e eventuais outras moedas que não tivessem aumento substancial de oferta, teria de subir em relação às moedas tradicionais. Assim, uma nova moeda que, por regra, não teria grande aumento de oferta – como o Bitcoin – deveria subir significativamente de preço em relação às moedas tradicionais ao longo dos anos seguintes

 

À época, achei eu, o problema poderia estar na procura por essa nova moeda. Será que as pessoas colocariam o dinheiro que suaram tanto para ganhar em um ativo que poucos entendiam exatamente como funcionava e que fora supostamente criado por um tal de Satoshi Nakamoto, que ninguém sequer sabe se realmente existe?! Será que que o Bitcoin seria aceito como meio de pagamentos? Sem isso, não haveria demanda por ele. E  algo que não tem demanda, não tem valor.

 

De lá para cá, meus medos se provaram infundados. As criptomoedas têm se tornado cada vez mais aceitas como forma de pagamentos e vêm sendo cada mais regulamentadas. Também vem crescendo o número de empresas que pagam salários e investem em criptomoedas. No último trimestre, todo o lucro da Tesla originou-se de seus investimentos em criptomoedas e venda de créditos de compensação de emissão de carbono.

 

Criptomoedas e tokens possibilitam investimentos em projetos que vão da preservação da Amazônia a ativos ligados ao futebol, viabilizando transações e investimentos, mesmo de valores baixos. Além disso, são líquidos. Podem ser comprados e vendidos com facilidade e segurança e guardados digitalmente através de plataformas como o Mercado Bitcoin – a maior plataforma de criptomoedas e ativos digitais na América Latina – que cumpre as funções de Bolsa, corretora e custodiante.

 

Para completar, as taxas de juros – que haviam se tornado até negativas em países desenvolvidos mais ou menos na mesma época da criação do Bitcoin- também ficaram negativas no Brasil, ao menos em termos reais, ou seja, descontando a inflação. Juros muito baixos por aqui causaram forte desvalorização do Real e levaram investidores brasileiros também a buscar outros investimentos, como já acontecia no resto do mundo. Com tudo isso, a procura por ativos digitais vem crescendo bastante. Qualquer coisa com oferta limitada e crescimento rápido de procura torna-se escasso, o que faz com que seus preços subam em ritmo acelerado. Foi o que aconteceu com as criptomoedas ao longo dos últimos 11 anos. Aqui no Brasil, no último ano, subiram ainda mais porque a maioria destes ativos tem seus preços determinados em dólares ou outras moedas que também subiram de preço em relação ao Real, aumentando a valorização destes ativos em reais.

 

Enfim, em 2010, até pensei em comprar alguma coisa em Bitcoins. No entanto, o medo de que ninguém quisesse aquilo no futuro ou de que alguém sumisse com os meus ativos, somado ao fato de eu não saber exatamente como comprar e guardar meus Bitcoins, me fizeram não comprar. Naquele momento, 1 Bitcoin custava US$0,01 ou R$ 0,017. Atualmente, custa cerca de R$300 mil. R$100 investidos naquela época valeriam aproximadamente R$175 milhões. Se eu tivesse investido -o que não fiz – e mantido o investimento até hoje…

 

Manter o investimento por todo esse tempo foi um desafio para quem investiu desde o início, mas não tinha tanta convicção assim. Desde a criação, o Bitcoin passou por várias correções de preço de mais de 80%, três delas só nos últimos 8 anos. O investidor tem de estar consciente de que isso é normal. Talvez outra grande correção temporária de preços esteja próxima ou até já esteja acontecendo. E isso é absolutamente normal.

 

Dessa oportunidade que perdi e de todo o dinheiro que eu poderia ter ganhado e não ganhei, tirei cinco lições importantes:

 

1.     Há 11 anos, deveria ter feito um pequeno investimento em Bitcoin a longo prazo e o encarado como um bilhete de loteria melhorado, com muito pouco a perder e uma eventual possibilidade de ganhar muito;

 

2.     Os dias das criptomoedas, e particularmente do Bitcoin, como ticket de loteria estão no passado. Atualmente, criptomoedas já estão maduras o suficiente para serem encaradas como uma classe de ativos a receber alocação em carteira de investidores, condizente com sua volatilidade e correlação com outros ativos e também com o perfil de risco de cada investidor;

 

3.     Em investimentos de alta valorização, o investidor tem de estar preparado para correções cíclicas muito significativas de preço. Esta é uma característica do desempenho de qualquer ativo com adoção crescente e altas aceleradas de preço. Essa alta é sempre permeada por fortes chacoalhadas. As ações da Amazon, cujos preços subiram mais de duas mil vezes desde seu lançamento há 24 anos, também passaram por diversas correções de preço de mais de 80%. Com Apple, Google e Facebook, a história é parecida. Grandes correções ocorrerão de tempos em tempos. São oportunidades para montar e aumentar posições a preços atraentes e, por consequência, com maior potencial de retorno.

 

4.     Em toda classe de ativos há bons e maus ativos. Com as criptomoedas não é diferente. A internet e a transformação digital mudaram as vidas de todos nós e geraram as empresas mais poderosas e lucrativas que a humanidade já viu. No entanto, muitas empresas digitais que surgiram nos primórdios da internet – as famosas pontocom – já não existem mais. A longo prazo, é provável que muitas criptomoedas não sejam suficientemente usadas e deixem de existir. Outras permearão cada vez mais nosso dia a dia e, compensando a volatilidade no meio do caminho, terão valorizações estelares. Por isso, diversificação e uma boa assessoria para investir bem são fundamentais.

 

5.     Hoje, estou convencido de que as criptomoedas vieram para ficar e compõem uma classe de ativos que precisa ser conhecida por qualquer um que tem um dinheirinho para investir.

 

Ricardo Amorimautor do bestseller Depois da Tempestade, o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedInúnico brasileiro entre os melhores palestrantesmundiais do Speakers Corner, ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças, presidente da Ricam Consultoria e cofundador da Smartrips.co e da AAA Plataforma de Inovação.

 

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