04/2022
Por Ricardo Amorim
Você acha que o mundo, seu país e a vida em geral pioraram ou melhoraram nos últimos 10 anos?
Em todo o mundo, a grande maioria das pessoas que escuta esta pergunta responde que tudo piorou. Será verdade?
É inegável que, nos dois últimos anos, a pandemia trouxe mais mortes, preocupações, desemprego e inflação e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia trouxe novas preocupações, mas uma análise desapaixonada de vários outros dados mostra uma realidade bastante diferente.
De 10 anos para cá, a fome, a miséria e o número de homicídios despencaram no mundo. No Brasil, onde a taxa de homicídios era e ainda é bem maior que a média mundial, a queda do número de homicídios foi ainda maior. Aqui, a renda per capita encolheu nos últimos 10 anos e a taxa de desemprego é das maiores que já tivemos, mas em grande parte do resto do mundo, a taxa de desemprego é das menores da História e a renda das pessoas é a mais alta já registrada.
De onde, então, vem a percepção de piora generalizada? Um fator importante foi a aceleração da velocidade de disseminação de notícias.
A internet e as redes sociais trouxeram grandes mudanças; muitas delas boas; outras não. Uma dessas mudanças foi uma aceleração da disseminação das notícias e, por consequência, um mais rápido envelhecimento das notícias, levando as pessoas, cada vez mais, a focarem na notícia do momento, independentemente de sua relevância nas vidas delas.
Por que isto importa? Porque destruições são quase instantâneas, mas construções demoram a acontecer. Como o processo de construção – de um melhor modelo educacional, de um melhor sistema de acesso a alimentos ou de um sistema de energia acessível – é lento, ele não é notícia. As pessoas querem saber o que está acontecendo neste exato momento. O acontecimento momentâneo que chama a atenção normalmente é um desastre, um acidente, um problema ou algum acontecimento absurdo. Por isso, cada vez mais, o que é noticiado e, ainda mais o que é notado pelas pessoas são exatamente as catástrofes. Sendo bombardeadas e prestando atenção diariamente a centenas de notícias ruins, é natural que as pessoas acreditem que tudo está piorando.
O processo de seleção natural reforçou, ao longo tempo, nos seres humanos a característica de prestar mais atenção aos problemas e riscos do que às coisas boas. Na savana, as pessoas que se assustavam e corriam ao ouvir o rugido do leão sobreviveram e tiveram a chance de ter filhos e passarem seus genes que prestam atenção às más notícias para frente. Já as que não davam bola para más notícias viraram comida de leões.
Muita gente se queixa que a mídia foca, em geral, nas más notícias. É fato que isto acontece. A parte importante é por que isso acontece. A razão é que as pessoas dão mais atenção às más notícias. A mídia sobrevive de audiência. Se as pessoas focam mais nas más notícias, a mídia naturalmente noticiará o que as pessoas focam.
Só que a confluência destes fatores está criando uma falsa percepção de que tudo só piora. Se esta percepção não for revertida, acabará se transformando em uma profecia auto-realizável. O que causou melhorias gigantescas de expectativa de vida, riqueza e liberdade foram inovações que só aconteceram porque muita gente acreditou que era possível mudar para melhor. Só acreditar na possibilidade de melhorar não garante nada, mas sem acreditar que é possível mudar as coisas para melhor, nada será feito para que elas melhorem e elas não irão melhorar. A falsa percepção de piora generalizada está paralisando cada vez mais gente. Se isso se generalizar, a humanidade e o Brasil estarão fadados à decadência.
Otimismo é fundamental, mas não otimismo ingênuo e sim um otimismo realista e construtivo. Para serem solucionados, os problemas precisam ser reconhecidos e compreendidos. Ao mesmo tempo, as pessoas precisam acreditar que eles podem ser solucionados.
Exatamente por isso, há muitos e muitos anos, enfatizo em minhas palestras, posts e entrevistas não apenas quais são os problemas nacionais e suas potenciais soluções, mas os infindáveis casos concretos de pessoas no Brasil e no mundo fazendo coisas sensacionais em todos os campos da vida – negócios, tecnologia, ciência, esportes, educação, saúde, artes, etc. Estas pessoas mostram que todos nós podemos fazer coisas incríveis e que há muita coisa melhorando muito, mas estas coisas apenas não estão no radar da maioria das pessoas.
Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro entre os melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner, ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças, presidente da Ricam Consultoria e cofundador da Smartrips.co e da AAA Plataforma de Inovação.
Quer receber meus artigos por e-mail? Cadastre-se aqui.
Clique aqui e conheça as minhas palestras.
Siga-me no: Facebook, Twitter, YouTube, Instagram e Medium.