Reforma Tributária? Que Reforma Tributária?

07/2020

Por Ricardo Amorim

 

 

Por diversas vezes, elogiei propostas de Paulo Guedes e sua equipe. Não é o caso, hoje. A proposta de Reforma Tributária do governo é uma decepção. Para ser franco, o que o governo propôs até agora merece, na melhor das hipóteses, ser chamado de remendo, não de reforma. Por medo de não conseguir aprovar uma verdadeira reforma no Congresso – como as PECs que já estão na Câmara e no Senado há tempos – o governo preferiu fatiar a reforma. Ainda que longe do ideal, até se poderia aceitar esta estratégia, se ela começasse pelo essencial. Não é o que aconteceu.

 

A proposta de unificar PIS e COFINS, criando a Contribuição Sobre Bens e Serviços (CBS) com uma alíquota de 12% é péssima. Para começar, ela elevaria absurdamente os impostos para o setor de serviços e comércio – os mais negativamente impactados pela pandemia – incluindo hotéis, restaurantes, transporte aéreo e educação.

 

Todas as empresas que trabalham em regime de lucro presumido passariam a pagar uma alíquota de12% de seu faturamento com a CBS. Hoje, pagam um total de 3,65% de PIS+COFINS.

 

A Reforma Tributária deveria simplificar nosso manicômio tributário, mantendo a carga tributária constante. A proposta apresentada pouco simplifica o sistema e mais do que triplica a carga tributária para setores já em dificuldades. Mantida como está, resultará em um grande aumento de falências e de desemprego.

 

Para realmente simplificar nosso sistema tributário, ICMS e ISS não poderiam ficar de fora da reforma.

 

Além de ineficiente, a proposta de reforma tributária é injusta. Enquanto a grande maioria das organizações pagaria 12% de CBS, instituições financeiras pagariam 5,8%, partidos políticos, sindicatos, igrejas e outros não pagariam absolutamente nada. Se a ideia é unificar a alíquota, não deveríamos ter uma alíquota menor, mas que realmente todos pagassem?

 

Talvez ainda mais grave, ao invés de reduzir a injustiça de que os mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos no país, a proposta enviada ao Congresso piora o problema.

 

Ao elevar os impostos e preços de serviços, a proposta aumentará o total de impostos sobre consumo, impactando mais significativamente o orçamento dos mais pobres, que gastam toda a sua renda com consumo, do que o dos mais ricos, que conseguem separar uma parte da renda para poupança.

 

Para piorar, mais para frente, o governo pretende criar uma nova versão da CPMF.

 

Como disse antes, esta equipe econômica tem trazido uma série de propostas importantes para acelerar o crescimento e tornar o país mais justo. Esta proposta de Reforma Tributária não está entre elas. Como sociedade, o melhor que podemos fazer é abortarmos essa proposta de Reforma Tributária, focarmos a agenda econômica na Reforma Administrativa e no Programa de Privatizações – que são excelentes – e daqui a algum tempo, retomarmos a discussão de uma Reforma Tributária digna do nome, como, por exemplo, o projeto de Bernard Appy que já está no Congresso.

 

Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro entre os melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner, ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças, presidente da Ricam Consultoria e cofundador da Smartrips.co e da AAA Plataforma de Inovação.

 

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