Entrevista de Ricardo Amorim sobre transformações sócio econômicas no país e impactos em nosso mercado agropecuário.

Revista Pork World

02/2012

Por Daniel Azevedo

 
O mundo precisa da suinocultura brasileira para se alimentar. O setor, em um ambiente de instabilidade global, precisa de informação de qualidade mais do que nunca. Por isso, nossa motivação em lançar um formato inédito de anuário com este “Guia Executivo da Suinocultura – Perspectivas e tendências para 2012” e ser útil aos executivos da suinocultura brasileira durante todo o novo ano. O instável 2011 chegou ao fim e o ano novo anuncia-se como outro período em que as incertezas sobre o mercado podem ser maiores que as certezas. Nesta hora, não existe nada melhor do que conhecer os números, análises e previsões dos melhores especialistas do Brasil e do mundo para tomar decisões acertadas.
 
Em nosso cotidiano jornalístico, acompanhamos de perto as oscilações da economia brasileira e mundial ao longo de 2011, o que nos permite traçar um quadro geral da economia nacional e global como introdução a este anuário. No Brasil, tivemos um início de ano próximo à euforia pelo crescimento econômico acelerado, aumento da renda das famílias, reconhecimento internacional e, até, algumas lições aos “donos da verdade” de países do primeiro mundo. Não era para menos. O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 7,5% em 2010 (o maior crescimento em 24 anos, desde 1986), depois de mais de 20 anos em 24 de crescimento tímido ou vegetativo, e totalizou R$ 3,675 trilhões. Enfim, o Brasil, parafraseando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passou por uma “marolinha” em lugar do tsunami vivido pela maior economia do mundo, os EUA, desde o final de 2008 até 2010.
 
O “ritmo chinês” de crescimento em 2010 culminou no aumento da renda das famílias brasileiras que, conforme o economista Ricardo Amorim, ajudou a “transformar nossa pirâmide social em um losango”. Mais de 40 milhões de pessoas subiram das classes D ou E para a classe C em cerca de 5 anos.
Essa “melhoria de vida” se refletiu diretamente no varejo que apresentou índices de crescimento para lá de chineses. Segundo análises do Bradesco e do IBGE, as vendas do setor cresceram 10,9% em 2010, sustentando a expansão econômica enquanto o mundo ainda se convalescia da crise financeira de 2008-2009.
 
O consumo interno garantiu velocidade de cruzeiro enquanto a “marolinha” passava. Assim, o agronegócio teve crescimento superior a 6,5% em 2010 e representou 22,3% do PIB com produção estimada em R$ 821,06 bilhões. O ano de 2011 começou com expectativas positivas para o Brasil, especialmente para o agronegócio uma vez que o crescimento populacional e da renda média no mundo garantem maior demanda. Chegamos a 7 bilhões de habitantes em 2011 e, até 2050, teremos mais 2,5 bilhões de pessoas ou mais de 12 “Brasis” em 39 anos, como alertou o especialista Marcos Fava Neves.
 
Além da população, os países emergentes de Ásia, América do Sul e África também sustentarão o crescimento da economia mundial nas próximas décadas. A China é o caso mais conhecido mas a Índia é outro bom exemplo. O país cresce “um Brasil” em população a cada dez anos e também urbaniza seus habitantes, alterando hábitos alimentares e aumentando a renda média das pessoas.
 
Alguns países emergentes, inclusive, passarão a ter mais importância enquanto bloco do que os países mais ricos atualmente. Segundo a consultoria Goldman Sachs, os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) vão superar o G-7 (EUA, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido) em produção entre 2030 e 2035.
 
A China deve superar os EUA em PIB já em 2026, segundo as previsões, desenvolvendo seu potencial na indústria transformadora. O Brasil, por sua vez, tem grande potencial no agronegócio, apesar de ser a economia mais completa entre os BRICs. O agronegócio brasileiro tem uma responsabilidade mundial e assim, apesar do expressivo mercado interno, somos os terceiros maiores exportadores de produtos agropecuários do planeta, atrás apenas de EUA e UE.
 
Mas, a curto prazo, o cenário não é tão positivo e inspira prudência. Ainda no primeiro semestre de 2011, a instabilidade em algumas das principais economias do mundo já se refletia nas bolsas de valores, prognósticos de crescimento econômico para os Estados Unidos (EUA) e União Europeia (EU) diminuíram e o consumo dos países mais importantes no comércio internacional também.
 
Os EUA, que no primeiro semestre do ano alimentava expectativa de crescimento, têm, hoje, risco de 35% a 40% de viver uma recessão em 2012, segundo analistas econômicos. O motivo é a dívida pública de US$ 14,3 trilhões que exigiu autorização parlamentar para aumento do teto da dívida no último minuto para evitar um inédito calote do tesouro americano.
 
Apesar de afastado o calote, a agência de risco Standard & Poors diminuiu a nota do país quanto à segurança de seus credores, o que pode potencializar um ciclo negativo de desconfiança, retração do crédito, menos investimento, queda no consumo e, enfim, recessão na maior economia do planeta e segundo principal parceiro comercial do Brasil.
 
Já na União Europeia, o problema e as consequências se repetem. Países como Grécia, Irlanda e Portugal tiveram que ser resgatados pelo bloco para não caírem no calote devido a dívidas públicas impagáveis. O problema é mais grave pois economias muito maiores, Itália e Espanha – terceira e
quarta da zona euro, também entraram na rota do “calote” e são muito grandes para serem “resgatadas”.
 
A UE, depois de exaustivas reuniões do Banco Central Europeu, anunciou medidas fiscais e estruturais para combater o déficit público além de volumosos aportes de crédito a juros mais baixos para evitar desdobramentos tão traumáticos como calotes ou mesmo o desmembramento do bloco. Se vai funcionar, ninguém sabe.
 
Analistas divergem sobre o impacto que a “nova crise” internacional pode ter no agronegócio brasileiro. Alguns dizem que o reflexo será similar a crise de 2008-2009 enquanto outros confiam no aumento da demanda mundial por alimentos para sustentar preços e o comércio.
 
A queda nos preços das commodities nos últimos meses seria, apenas, uma suavização ou acomodação nos preços que vinham com muita força e, não, a diminuição da demanda. Ouvidos em agosto, o economista Ricardo Amorim, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg e o ex-ministro Roberto Rodrigues tinham avaliações diferentes sobre o impacto de uma nova crise mundial.
 
Amorim via um quadro pior do que em 2008-2009 e previa uma crise ainda mais forte para os próximos meses. Já para Rodrigues, a crise só afetaria de maneira importante o setor no Brasil se for muito longa e profunda. Sardenberg, por sua vez, acreditava que “o Brasil entra em crise mas não quebra”. Como se não bastasse, lembramos as “desvantagens” para todos os empreendedores brasileiros: o custo Brasil.
 
Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial de Competitividade, com 133 países, colocou o Brasil no 56º lugar, sendo 27º no setor privado e 128º no setor público! O Brasil tem uma infraestrutura nota 3,8 de zero a sete (meio ponto a menos que a média mundial); leva 411 dias para lidar com licenças (210 dias mais que a média mundial); tem carga tributária sobre o lucro de 69% (25 pontos percentuais mais do que o mundo); exporta cada contêiner por US$ 1790 (US$ 465 mais caro que na média do planeta); entre outras.
 
Tudo isso pode aumentar o impacto no Brasil de uma eventual nova crise mundial bem como, em médio e longo prazo, dificultar e mesmo desperdiçar grandes oportunidades para mantermos crescimento econômico que permita melhor qualidade de vida à população brasileira. Grande exemplo de benefício social, a suinocultura brasileira emprega mais de 2,7 milhões de pessoas direta ou indiretamente.
 
O Brasil ocupa a quarta posição mundial como produtor (atrás de China, EUA e UE), com mais de 3,3 milhões de toneladas, e exportador, com cerca de 520 mil toneladas. Segundo previsões da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), teremos expressivo crescimento nos próximos 20 ou 40 anos. A indefinição sobre os rumos da economia mundial, no entanto, segue meses após os primeiros sinais chegados do velho continente. A suinocultura brasileira precisa estar preparada. Assim, buscamos os melhores e mais respeitados especialistas e entidades do planeta para trazer a informação mais completa e qualificada sobre a suinocultura global e nacional, desde a produção até o comércio e o consumo.
 
A indefinição do está por vir gera “Fames magistra” (necessidade imperiosa) por este tipo de material, assim como o mundo precisa do Brasil para se alimentar. Logramos reunir, nesta mesma edição, as análises do norte-americano Doug Wolf, do inglês Jonathan Banks, do brasileiro Osler Desouzart, do alemão Sven Hauser, do especialista Dennis DiPietre; do presidente da Aurora, Mário Lanznaster; além dos artigos do presidente da ABCS, Marcelo Lopes; do presidente da Abipecs, Pedro Camargo Neto, entre outros.
 
As ações e prioridades governamentais, cruciais para desenvolver o potencial da suinocultura no País, também são amplamente abordadas com textos dos ministérios da Agricultura, dos Transportes e da Indústria e Comércio Exterior. Já o abastecimento de grãos, igualmente, tem um “capítulo” à parte com previsões da Conab e da USDA para 2012. Também trazemos a visão de executivos de empresas do setor e a opinião da Embrapa sobre o desempenho da suinocultura no próximo ano. Um anuário que superou o desafio de reunir tantas fontes importantes para poder ser chamado de “Guia Executivo da Suinocultura”. Com essa primeira edição de 2012, a AnimalWorld renova seu objetivo: ser útil a você leitor!

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