07/2016
Por Ricardo Amorim
“Oportunidade perdida”, assim o prefeito do Rio de Janeiro definiu nossa Olimpíada, que começa no dia 4 de agosto. Nas palavras do prefeito, “com a crise econômica e política, com todos esses escândalos, não é o melhor momento para estarmos nos olhos do mundo.”
Tem razão. Sediar uma Olimpíada, como receber uma Copa do Mundo, oferece duas enormes oportunidades a um país. A primeira é o efeito-holofote. Eventos globais colocam um país em evidência, podendo incrementar seu fluxo de comércio e de turismo de forma permanente, ao exporem potenciais negócios com os estrangeiros que talvez não fossem descobertos sem estes holofotes. Com as dificuldades econômicas e as incertezas políticas dos últimos anos, pouco aconteceu com a Copa e menos ainda deve ocorrer com a Olimpíada.
A segunda oportunidade é mais rápida e visível, principalmente em países em desenvolvimento e ainda mais no Brasil: aproveitar o evento para aperfeiçoar substancialmente a infraestrutura do país e da cidade-sede. O maior legado que a Copa do Mundo poderia ter deixado ao Brasil era uma melhora substancial em nossa infraestrutura de transportes. De acordo com um ranking elaborado pelo Banco Mundial sobre facilidade de se fazer negócios em diferentes países, o Brasil era o 103º em disponibilidade e qualidade de ferrovias, o 120º em rodovias, o 123º em aeroportos e o 131º em portos entre 148 países quando foi escolhido como sede para a Copa do Mundo. Tal melhora não aconteceu. Os projetos de reformas e expansões de aeroportos, rodovias, ferrovias e transporte urbano foram muitos, mas nos aeroportos os avanços foram menores do que os esperados, e nos demais modais de transporte foram mínimos ou quase inexistentes.
O legado de infraestrutura da Olimpíada para a cidade do Rio de Janeiro deve ser melhor do que o da Copa, mas ainda assim deixará muito a desejar, com obras inacabadas, mal feitas ou superfaturadas.
Se a oportunidade da #Rio2016 parece perdida, ao menos não devemos perder as lições que esta perda traz.
A primeira delas, particularmente em países em desenvolvimento, onde os índices de corrupção costumam ser mais elevados, é fortalecer os mecanismos de combate à corrupção antes de assumir compromissos com custos bastante elevados e que, tradicionalmente, estouram e muito o orçamento. No caso brasileiro, o combate mais agressivo à corrupção até está acontecendo, mas chegou tarde demais para evitar enormes estouros do orçamento tanto da Copa quando da #Rio2016.
A segunda, detalhada em meu recente livro Depois da Tempestade, é que o desempenho econômico de qualquer país tem um grande componente cíclico. Ciclos de surpresas econômicas favoráveis de 3 a 8 anos costumam ser seguidos de ciclos de decepções econômicas de duração similar. Países e cidades tendem a ser escolhidos para sedes da Copa do Mundo e da Olimpíada após longos ciclos de boas surpresas econômicas, que muitas vezes estão prestes a acabar. Quando os eventos chegam, os ciclos foram revertidos, e eles acabam ocorrendo em meio a recessões ou crises econômicas e financeiras. Foi o caso das Olimpíadas de Atenas, Pequim, Londres e Rio de Janeiro, apenas para limitar-me às quatro mais recentes. Os holofotes acabam iluminando os problemas recentes, ao invés dos avanços da época em que o país e a cidade se candidataram a sediar os eventos, avanços que a estas alturas ficaram para trás.
Estas lições são preciosas não só para o país, mas também para cada empresa e para cada um de nós. Precisamos aprender a planejar e agir com antecedência para não sermos surpreendidos pelo que não teria de ser surpresa. Neste planejamento, temos de estar cientes dos ciclos econômicos para não nos deixarmos levar pela euforia e tomarmos decisões equivocadas – como sediar uma Copa ou Olimpíada ou montar uma nova fábrica – logo às vésperas do fim da bonança. Ou não nos deixarmos contaminar pelo derrotismo quando o ciclo ruim está prestes a terminar – dando a largada a umciclo muito mais favorável – e perdermos ótimas oportunidades, como no momento atual.
Ricardo Amorim é autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, presidente da Ricam Consultoria, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes.
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