Entrevista de Ricardo Amorim ao Jornal da Cidade de Aracaju sobre a recuperação econômica

06/2016

Jornal da Cidade

Por Wellington Amarante

 

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O processo de retomada do crescimento pode estar mais próximo do que se imagina e será mais intenso do que o esperado pela maioria dos cidadãos. Porém, é necessário que o governo aprove no Congresso dois projetos importantes: o limite dos gastos públicos e a reforma da previdência. Quando isso ocorrer, a confiança do setor empresarial irá crescer e viveremos um novo ciclo de crescimento. Esse é o ponto de vista do economista Ricardo Amorim, presidente da RICAM Consultoria, prestadora de serviços na área de negócios e economia global, e apresentador do programa Manhattan Connection, da GoboNews. Ele esteve em Aracaju a convite do Sebrae para ministrar uma palestra no teatro Tobias Barreto. Otimista, ele acredita que a crise traz boas oportunidades para aqueles que estão mais preparados.

 
Qual a relação da crise política com a crise econômica?
 

Dilma Rousseff conseguiu se reeleger com um discurso de que as coisas estavam muito boas. Uma semana depois de eleita, precisou aumentar o valor da energia elétrica, da gasolina e da taxa de juros. Por conta disso, uma parte do eleitorado se sentiu enganada, contribuindo para derrubar a popularidade. Além disso, vivíamos um momento de desequilíbrio em três campos e que foram gera­dos no primeiro governo da presidente: as contas externas, inflação e contas públicas. Quando somamos esses fatos chegamos ao cenário em que nos encontramos hoje.

 
Mas por que chegamos a esses desequilíbrios?
 

Porque nos últimos 15 anos o governo só estimulou consumo, esquecendo-se de estimular a produção. Por conta disso a inflação também começou a crescer, somado ao fato de o governo também passar a gastar demais. Tudo isso ter­minou por desequilibrar as contas públicas. As coisas ficaram ainda piores por conta da crise política, pois o governo não conseguiu aprovar no Congresso o ajuste fiscal e a confiança do empre­sário foi embora. Sem confiança ele não investe, as pessoas não consomem e a economia entra em um espiral negativo.

 

Você é um dos primeiros profissionais a ter uma visão otimista da recuperação da economia. O que o leva a acreditar que iremos crescer no menor tempo possível?

 

Porque todas as outras vezes que passamos por processos de contrações econômicas significativas presenciamos nos anos seguintes momentos de crescimento econômico muito acelerado. Isso ocorreu nos anos 30, no Fim do Estado Novo, du­rante o Golpe Militar, no processo de redemocrati­zação e após o impeachment de Collor.

 

E por que isso acontece?

 

Na crise, uma série de decisões de investimentos são engavetadas. Quando a economia melhora e, mais do que isso, quando as pessoas acreditam que ela vai melhorar, os empresários começam a retirar os projetos da gaveta. Somado aos novos projetos, começam a ser gerados milhares de empregos e o que antes era uma bola de neve para o lado ruim passa a se transformar em algo positivo. As empresas inves­tem, criam empregos, aumenta a renda da popula­ção, gerando mais consumo e dando mais confiança aos empresários.

 
A questão então passa pela confiança.
 

Quando tiver uma melhora ou expectativa de melhora a economia vai crescer muito mais do que as pessoas imaginam. Uma questão importante é quando isso vai começar. Eu não sei a resposta, sei apenas o que precisamos fazer. Necessitamos ur­gentemente cortar os gastos do governo e, para que isso aconteça, temos que aprovar no Congresso duas grandes medidas: o limite de gastos públicos e a reforma da Previdência. A primeira já foi aprovada. Falta agora a segunda.

 
Por que é importante reformar a Previdência?
 

Hoje o governo precisa realocar cada vez mais recursos para cobrir o rombo da Previdência. É dinheiro que poderia ser utilizado para me­lhorar a infraestrutura e a educação. Além disso, caso não façamos essa reforma não iremos ga­rantir no futuro o benefício a quem tiver direito. As pessoas estão vivendo mais e se aposentando mais cedo. É preciso reverter essa lógica.

 

Ricardo Amorim - palestra

 

Uma crítica que se faz ao debate sobre a reforma é se os impactos seriam mais sentidos apenas pelos trabalhadores da iniciativa privada. E os servidores públicos?

 

A conta também não está fechando porque temos vários regimes colocados em prática. Um dos erros de todos esses governos é só sinalizar mudanças no regime dos trabalhadores da iniciativa privada. Há um buraco, muito mais profundo e onde é mais difícil de comprar briga, que é na aposentadoria do setor público. Isso é socialmente injusto, pois deveríamos ter uma previdência com régua igual para todos e nesse vespeiro presi­dente nenhum quer mexer.

 

Temos um governo novo que já passa por momentos de turbulência. Se as questões políticas continuarem a ter um desdobramento, se sobre­pondo ao debate econômico, essas medidas conseguirão­ ser aprovadas?

 

O risco existe e acho possível que isso aconteça. Mas por que acredito que isso é menos provável? Por­que o ministério do Temer foi montado sob medida para que a pauta econômica seja o assunto principal. Temos um grupo de notáveis na área econômica e senadores e deputados nos outros ministérios para garantir a aprovação dessas medidas no Congresso. Se o governo colocar essas medidas agora para votação, as chances de aprovação são maiores. O problema é que também temos vários ministros investigados pela Operação Lava Jato e não sabemos se daqui a algum tempo, quando essas medidas forem encaminhadas, a base de sustentação vai ser sólida para garantir a aprovação.

 

O Brasil tem o terceiro maior gasto público entre os emergentes. Você defende que é preciso um choque de gestão para reduzi-lo, permitin­do que futuramente possamos diminuir a carga tributária. Por outro lado, há quem aponte que essa redução pode prejudicar a economia, já que há uma cadeia de empresas e pessoas que depen­dem desses recursos. Como chegar a um ponto de equilíbrio e sem prejuízo aos gastos sociais?

 

O problema é que temos um Estado muito grande e quando isso acontece a corrupção se faz presente. A prova disso é a Operação Lava Jato. Hoje o governo está sem dinheiro para os gastos so­ciais porque está gastando dinheiro com a máquina e tem outra parte dos recursos que está sumindo. É aí que entra o choque de gestão. Se você olhar a distribuição de renda antes de pagarmos os impos­tos e recebermos os serviços públicos e compará-la depois das duas coisas verá que ela é pior depois do que antes. Em outras palavras, o Estado concentra renda. E por que isso acontece? Porque a maior parte dos impostos no Brasil são concentrados sobre o consumo. Isso prejudica os mais pobres, já que eles utilizam toda a renda no consumo. O problema é que não estamos discutindo isso.

 
Isso vai ao encontro do que você chama de desmontar o Estado paternalista?
 

Sim. Fala-se muito do Bolsa Família, mas a maior parte da sociedade também é benefi­ciada por uma série de benesses. É o chamado “Bolsa Brasil”. Temos a seguinte visão: somos contra os programas de governo que não nos afetam, mas não queremos que mexam naque­les que nos beneficiam. É preciso colocar um fim nisso tudo.

 

Você defende que a economia do país terá uma retomada mais rápida que o esperado. Como as empresas, sobretudo os pequenos negócios, podem se beneficiar desse cenário?

 

A coisa mais importante é que o empresário precisa sobreviver à crise para poder aproveitar as oportunidades que virão mais à frente. Nesse momento é preciso encontrar uma forma de poupar, cortar custos, elevar a qualidade dos produtos e serviços e melhorar os processos. Para quem tem um bom diferencial competitivo, a hora de aproveitar é quando os concorrentes estão contraídos. É nessa hora que o empresário aumenta a sua fatia de mercado.

 

Quais os setores que são mais promissores?

 

O mercado de serviços, pois apresenta um crescimento mais rápido e consegue sustentar a margem de lucro. Com o envelhecimento da população temos boas perspectivas para o setor de saúde. Outro segmento que irá se beneficiar é o agronegócio, já que estamos melhorando a produtividade no campo e em breve nos tor­naremos o líder em exportação de alimentos. Isso vai gerar oportunidades regionais. Outro cenário bastante interessante é para o setor imobiliário. Temos um déficit de imóveis ainda muito grande e a relação entre o nível de endividamento imobiliário em relação ao PIB é muito baixo. Há bastante espaço para crescer, sobretudo quando o crédito estiver mais disponível.

 
 

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