Matéria sobre a palestra "2012: Tsunami ou marolinha?" do economista Ricardo Amorim.

Experience Club
02/2012
Por Rose de Almeida

 
“O Brasil está condenado”, disse Ricardo Amorim abrindo de forma impactante sua palestra, bastante aplaudida pelos mais de 100 empresários presentes ao evento, e assustando os presentes que esperavam do tema “2012: Marolinha ou Tsunami” uma visão mais positiva sobre a economia num futuro próximo.
Mas foi só a primeira impressão. O comentarista do Manhattan Connection enfatizou que apesar de fazer muita coisa errada na economia e cometer absurdos como negligenciar a educação, a saúde, investir pouco em infraestrutura, aumentar a carga tributária e não combater mais enfaticamentea corrução, o “Brasil está condenado ao crescimento”.
E o novo paradigma econômico requer uma adaptação de estratégias a realidades que nunca tivemos com um ritmo de crescimento ainda não vivenciado pelos empresários e muito menos pelo governo.
 
“Pela primeira vez, o RH se tornará mais estratégico pois viveremos uma condição de excesso de empregos e falta de mão-de-obra. Haverá menos disponibilidade de capital, em compensação se abrem mais oportunidades na geração de resultados, no lançamento de produtos para uma geração de novos consumidores, enfim um novo mundo se apresentará ao Brasil na próxima década”, confirmou.
 
Em uma fala repleta de números, índices e percentuais como bem cabem a um economista, Ricardo Amorim não perdeu a atenção da plateia em nenhum instante, nem quando falou que o crescimento do PIB este ano deve ficar igual ou menor a 3%, contrariando a expectativa do governo para 5% e a de outros economistas em 4%.
 
Quem esperava que ele dissesse que o mundo mudou graças ao ex-presidente Lula ou ao visionário Steve Jobs, se surpreende quando o economista mencionou o fictício Ching Li.
Sim, a China que causou uma revolução quando promoveu o êxodo de 400 milhões de chineses do campo para a cidade e virou de cabeça para baixo o mundo e a realidade de países como Estados Unidos e Japão.
 
E o Brasil se beneficia desta nova realidade através de cinco pontos:
1. Obvia explosão de consumo da matéria prima e elevação de preços (Brasil é grande exportador desses produtos)
 
2. Importação barata despencou o preço do que compramos de fora
 
3. Produtos que Brasil importa ficaram mais baratos, Brasil ficou mais rico enquanto países que exportam ficaram mais pobres.
 
4. Mundo consume mais celulares, TVs e computadores e a inflação no mundo caiu no mundo e quando a inflação cai à taxa de juros também cai. Dinheiro barato significa que país rico exporta e vende dinheiro barato.
 
5. O Brasil é hoje a terra das oportunidades e brasileiros que saíram do país estão voltando. E estrangeiros estão chegando. Jogadores mais bem pagos do mundo estão por aqui também. A economia mexe com tudo.
 
Embora o quinto fato não seja especificamente ligado ao Ching Ling, indica que o fator demográfico de mais gente aposentada no hemisfério norte dificulta a alavancagem da economia por lá, ao contrário do que está acontecendo nos países do hemisfério sul.
 
“Imaginem dois barcos, um a favor da correnteza e outro contra, mais devagar. Quando a China entra no jogo e provoca essa pororoca que inverte a correnteza dos barcos, o barco que tem mais gente aposentada terá menos desempenho, enquanto o barco do hemisfério sul, com muito mais crianças e jovens, tende a ser mais forte e rápido”, explicou Amorim, informando que o crescimento médio da Europa e Japão, foi metade das três últimas décadas.
 
O palestrante, entretanto, recomendou menos euforia, apesar dos indicadores positivos. Ocorre que o processo de desalavancagem da economia na Europa deve chegar ao Brasil através dos setores que dependem de financiamento.
 
Embora os empresários demonstrem preocupação com a bolha imobiliária, Amorim afirmou que não há perigo justamente porque o que gera a bolha é o crédito que permite que se compre com dinheiro que não se tem, e os outros países têm 10 vezes mais crédito do que o Brasil. “O consumo per capita de cimento nos Estados Unidos e todos os demais países que tiveram estouro de bolha imobiliária, por exemplo, era superior a 800Kg enquanto no Brasil é de 200Kg”.
 
O palestrante ainda discorreu sobre a situação da Grécia, da Itália, Espanha e Portugal, além da Irlanda que possuem dívidas astronômicas e continuam a emitir moeda. Com isso, o Euro vale cada vez menos e o dólar também não cessará sua queda.
 
Há uma mudança de paradigma que transferiu o centro de gravidade da economia para a Ásia e os emergentes.
 
Os produtos Made in USA terão de ser vendidos aos emergentes, pois a queda do salário por lá e a consequente diminuição do poder de compra afetará o mercado. Diferente do que ocorre no Brasil, onde o processo de mecanização era caríssimo e a mão-de-obra barata, se inverteu. Na medida em que os chineses fazem máquinas mais baratas, as empresas já poderão investir em maior automação por preços mais convidativos e assim a mão de obra que será necessária será mais qualificada e com salários maiores.
 
Os mais de 100 presidentes e empresários presentes ao almoço também puderam conferir as análises de Amorim sobre a Bolsa de Valores, fusão de empresas e a situação dos bancos, que mostra que dos 25 maiores bancos mundiais, quatro são brasileiros.
 
 “Em 98% das operações de fusões e aquisições envolvendo uma empresa brasileira e uma americana até cinco anos atrás, as brasileiras eram compradas. De lá para cá, a situação mudou. A brasileira JBS, por exemplo, comprou 35 empresas nos últimos quatro anos”, falou, lembrando que nunca antes na história deste país três empresas nacionais estiveram entre as maiores da economia mundial em um mesmo setor, como atualmente acontece no setor de carnes e laticínios.
 
Pincelando um comentário sobre os grandes eventos que aportarão por aqui em 2014 e 2016, Amorim falou que Copa e Olimpíadas não vieram por acaso. Eles atraem investimentos que resolvem problemas de infraestrutura e isso é legado para mais de duas décadas. “Ninguém notou que os investimentos brasileiros no setor de infraestrutura no Brasil triplicaram na última década, justamente porque saíram de quase nada para muito pouco”, disse, mas “o ponto relevante é que ainda vão triplicar nos próximos anos, com o PIB crescendo o dobro anualmente, a arrecadação de impostos subindo e maior formalização das empresas”.
 
No tocante ao setor energético, o Brasil não podia estar mais bem posicionado. É líder na produção e geração de energia limpa, biocombustível. A comida que o mundo precisará será plantada por aqui, fazendo com que o agronegócio torne as cidades do interior cada vez mais ricas, 40% de toda a área agricultável do mundo, mesmo se excluindoa Amazônia, está no Brasil.
 
Teremos um tsunami na indústria e uma marolinha no varejo, afirmou, mandando um recado para o setor industrial dizendo que em 2012 o Brasil deve crescer abaixo das expectativas, mas em 2013 deve atingir um ritmo de crescimento muito acelerado, talvez recorde, que deve permanecer elevado em 2014, com o estpimulo econômico provocado pela Copa e as eleições.
 
 “Então, a hora é de poupar, não de se endividar pois crises, como a europeia, geram oportunidades interessantes que só aproveita quem tem dinheiro na mão”, concluiu, lembrando que se os empresários não prestarem atenção no movimento diferenciado que está acontecendo na economia, os estrangeiros insatisfeitos com seus países é que virão ao Brasil aproveitar a situação.

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