Sebrae-GO
11/2012
Por Ricardo Amorim
Na última década, o mundo mudou muito mais do que a maioria de nós percebeu. Para aproveitar esta nova realidade precisamos, antes de mais nada, compreendê-la.
Desde o início do milênio, o centro de gravidade da economia mundial vem se deslocando dos Estados Unidos e Europa para os mercados emergentes. Crises nos países ricos e nós, emergentes, indo bem, obrigado!?, Não foi neste mundo que fomos criados. A melhora da economia brasileira somada à piora da situação dos países desenvolvidos torna as oportunidades aqui irresistíveis para empresas multinacionais de todo o mundo, que, cada vez mais, ampliam seus negócios no país.
Como tudo isto aconteceu? O Brasil se beneficiou de um forte crescimento na procura por matérias primas, um aumento significativo da oferta de capitais para financiar investimentos e consumo por aqui,uma marcante atração de talentos do exterior – até nossas clubes de futebol já estão trazendo mais jogadores de fora do que exportando – e uma mãozinha de mudanças demográficas. Por isso, a média de crescimento do PIB brasileiro dobrou nos últimos 8 anos em relação os 25 anos anteriores mesmo sem o Brasil resolver a maioria de seus problemas, como má qualidade de saúde e educação, impostos excessivos, infraestrutura precária, burocracia exagerada e corrupção. Em outras palavras, o Brasil foi condenado a crescer. Se as condições externas não mudarem radicalmente, o Brasil pode sustentar este ritmo de crescimento mais acelerado por mais duas ou três décadas, criando oportunidades excepcionais de negócios em vários setores e também novos desafios, como o apagão de mão de obra, que incentivará a mecanização no país e atrairá estrangeiros e aposentados para nosso mercado de trabalho.
Chegou a nossa vez
Nas últimas décadas, os emergentes cresceram muito mais do que os países ricos. Desde a entrada da China para a Organização Mundial do Comércio em dezembro de 2001, mais de 3/4 do crescimento do mundo vem dos países emergentes e menos de 1/4 dos EUA, Europa e Japão. Isto deslocou as maiores oportunidades de negócios para cá. Enquanto China e Índia sustentarem um crescimento acelerado, o Brasil deve continuar a se dar bem.
Tsunami na Europa, marolinha no Brasil
Todo o mundo tem sofrido os impactos econômicos negativos da crise europeia, inclusive o Brasil, com menor crescimento das exportações e menos oferta de crédito. Um eventual aprofundamento da crise na Europa e de suas consequências globais pode limitar o crescimento brasileiro ainda em 2013. Por outro lado, uma vez passado o auge da crise europeia, o Brasil deve voltar a crescer de forma mais acelerada.
Em 2010, antes da crise europeia, o crescimento do PIB brasileiro foi o mais elevado em 25 anos. Em 2011 e 2012, houve uma desaceleração. Ainda assim, desde a virada do milênio, o Brasil foi o terceiro país do planeta onde a economia, medida em dólares, mas se expandiu.
A vez do consumo de massa, saúde, educação, micro e pequenas empresas
Aumentos reais dos salários mínimo e programas do governo continuarão a expandir o poder de compra dos consumidores e regiões mais pobres do país, impulsionando nosso mercado. Só nos últimos seis anos, 57 milhões de brasileiros (o equivalente a toda população da Itália) ingressaram nas classes A, B e C, ampliando exponencialmente o mercado consumidor brasileiro. No restante desta década, dezenas de milhões de novos consumidores devem emergir, sendo, de fato incorporados ao mercado. O processo de melhora de distribuição de renda no Brasil nas duas últimas décadas foi tão marcante que em dois anos, a distribuição de renda no Brasil deve se tornar melhor do que nos EUA. A expansão da classe média deve sustentar um crescimento acelerado dos setores de educação e saúde. Além disso, como muitas vezes são as micro e pequenas empresas que atendem estes novos consumidores, forma elas que mais cresceram no país. Nos últimos 5 anos, a taxa de sobrevivência de micro e pequenas empresas no país foi mais elevada do que em quase todos países desenvolvidos.
Vendas movidas a crescimento de renda e crédito
Desde 2004, a consolidação da estabilidade econômica e a marcante queda das taxas de juros permitiu uma forte e sustentada expansão do crédito, que continuará nos próximos anos. Por isso, os setores mais dependentes de crédito – imobiliário, automotivo, de eletroeletrônicos e de turismo – foram e devem continuar a ser as locomotivas do crescimento do país ao lado do setor de infraestrutura, impulsionado pelos investimentos associados à Copa do Mundo e Olimpíadas, e do setor de petróleo e gás, por conta dos investimentos do pré-sal.
Desafios ambientais…oportunidades em sustentabilidade
57 milhões de novos consumidores são também 57 milhões de novos poluidores. Forte crescimento do consumo de massa aumentará os desafios ambientais e a relevância de processos e produtos ecologicamente sustentáveis, beneficiando energias renováveis e tecnologias mais avançadas.
Viva o agronegócio, o interior e o centro-oeste!
A fome chinesa e indiana por alimentos e matérias primas brasileiras deve continuar por mais duas ou três décadas. Por isso, as cidades do interior devem continuar a crescer mais do que as capitais do estados e a região centro-oeste também deve continuar a crescer mais do que o resto do Brasil.
Ricardo Amorim é economista, consultor, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria. Realiza palestras em todo mundo sobre perspectivas econômicas e oportunidades em diversos setores Único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do site inglês Speakers Corner e economista mais influente do Brasil e um dos dez mais influentes do mundo segundo o site americano Klout.com