"A economia brasileira ainda vai piorar antes de melhorar"

04/2014

Jornal A Notícia

Por Claudio Loetz

 

O economista Ricardo Amorim diz que vamos entrar numa crise econômica séria a curto prazo. Aposta que “as ruas vão pegar fogo” durante a Copa do Mundo. O analista também estima que o PIB brasileiro vai crescer menos de 2% neste ano. Avalia que a expansão dos negócios no País se dará, cada vez mais, em cidades médias do interior. Entende que a China vai contribuir para a crise, na medida em que sua economia perde dinamismo em relação ao que conseguia demonstrar até 2011. E recomendou aperto de cintos para 450 empresários em palestra feita no Hotel Bourbon, em Joinville, na terça-feira.

 
Ricardo Amorim é presidente da Ricam Consultoria, prestadora de serviços na área de negócios e economia global. Assessora clientes e antevê tendências globais e brasileiras, por setores. Economista formado pela Universidade de São Paulo (USP), é pós-graduado em administração e finanças Internacionais pela Essec de Paris. Atuando no mercado financeiro desde 1992, trabalhou em Nova York, Paris e São Paulo como economista e estrategista de investimentos. Também é debatedor no programa Manhattan Connection, na Globo News.
 

  • CRESCIMENTO DECEPCIONA

– O crescimento econômico no Brasil decepciona há três anos. Era fácil de prever, depois de termos surfado na onda positiva do período 2004-2010. Ao longo destes anos, o País agregou 18,5 milhões de pessoas ao mercado de trabalho. Agora, convive com dilemas de falta de infraestrutura e de mão de obra. Não há mais 18 milhões de trabalhadores a entrar no mercado profissional.
 

  • DESCOMPASSO

– Um dado significativo do descompasso de nossa economia é que as vendas no varejo crescem mais do que a produção industrial brasileira há uns dez anos. Isso é ruim para a indústria.
 

  • GENTE DE FORA

– Uma alternativa para minimizar o problema da falta de mão de obra é trazer gente de fora. Estamos fazendo isso. A outra é elevar a produtividade, via mais treinamento e incorporação de mais e melhor tecnologia de software.
 

  • PRODUTIVIDADE

– Para se fazer o mesmo trabalho, são necessários cinco brasileiros ou um americano. Isso se chama produtividade. Enquanto não mudarmos o modelo de desenvolvimento, estamos condenados a crescer 2% ao ano. Neste ano, vamos crescer para mais perto de 1% do que para 2%.
 

  • EXPANSÃO

O Brasil cresce nas cidades médias do interior. O interior já gera o dobro de empregos do que nas capitais. No Centro-oeste, por causa do agronegócio; no Norte, por causa da mineração; e no Nordeste, via recursos do Bolsa-família.
 

  • DESEQUILÍBRIOS

– Poderá vir uma crise séria com desequilíbrios globais. Não sei se chegará já neste ano. A China desacelera a expansão de sua economia. E isso tem efeitos. Em anos recentes, o dinheiro ficou barato no mundo. Cerca de 40% de todas as emissões feitas em dólar, euro ou iene foram feitas por companhias chinesas.
 

  • RATING

– O rebaixamento de classificação de risco do Brasil pela Standard Poor’s era esperado pelo mercado. A piora das contas públicas do Brasil é visível ao longo dos últimos dois anos. Contas externas pioraram, a inflação subiu.
 

  • 2015

– O próximo ano será um ano ruim. A inflação está elevada e grávida. Há um comportamento inercial no processo inflacionário. Não acredito que o resultado das eleições já esteja definido, como pensam muitos. Não dá para saber se a crise se abaterá já neste ano no País.
 

  • CLASSE MÉDIA

– Antes de 2004, havia 95 milhões nas classes D e E. Mudou o perfil socioeconômico. O governo criou o Bolsa-família e o Minha Casa, Minha Vida. Quem define a eleição é a classe média. São 105 milhões de pessoas. Agora, estas pessoas querem mais do que comida: transporte, saúde, educação e transporte de qualidade. O Mais Médicos é uma ótima sacada. Atende à população do interior mais pobre, que não tem médico algum.
 

  • DIFERENCIAL

– As empresas precisam apertar custos e serem melhores e fazer melhor do que fazem seus concorrentes. Inovação é fator essencial de competitividade e exige planejamento de longo prazo. Em termos relativos, no ranking mundial de inovação, o Brasil está atrás das Ilhas Maurício. O nosso depósito de patentes é ridículo.
 

  • PROBLEMA

– A China é problema para o Brasil. E bom para o varejo. A indústria nacional não consegue competir em preço, mas o consumidor compra itens made in China mais baratos. Desde 2008, houve desaceleração de consumo de produtos nos Estados Unidos e Europa. Eles ficaram mais competitivos. Porque o desemprego, lá, aumentou. Então, os salários caíram. Bom para eles.
 

  • ELEIÇÕES

– As eleições não estão decididas. Há uma perversa combinação de quatro fatores no horizonte de curto prazo: a) as ruas “vão pegar fogo” durante a Copa do Mundo; b) há o risco real de racionamento de energia; c) nos últimos quatro meses, diminuiu o número de pessoas procurando emprego; e d) os juros vão subir mais.
 

  • LETARGIA

– O Brasil está em letargia. Entre 148 países, está na 121ª posição da lista no ensino básico. Entre 156 países emergentes, o País figura em 153º lugar em carga tributária. Só Polônia e Hungria cobram mais impostos, mas têm populações de velhos e aposentados.
 

  • PERCEPÇÃO

– A percepção internacional sobre o Brasil piorou muito nos últimos anos. Minha consultoria tinha, por mês, de seis a oito clientes prospectando possíveis negócios e entrada no mercado brasileiro. Agora, em média, surge 1,5 cliente por mês. Os estrangeiros não nos enxergam mais como oportunidade. Hoje, me chamam para falar de problemas.
 

  • COTAS

– Se a melhoria do ensino é a solução, como fez a Coreia do Sul desde os anos 90, a opção do governo brasileiro em introduzir cotas raciais para democratizar o acesso às faculdades, é um equívoco. As cotas podem ser uma alternativa interessante. Mas deveriam ser por critérios sociais e econômicos, e num percentual nunca superior a 20% do total de alunos.
 
 

LinkedIn
Facebook
Twitter

Relacionados