Matéria sobre a palestra de Ricardo Amorim "A economia Brasileira e suas perspectivas"

04/2014

CNseg

 

Falhas em educação e infraestrutura comprometem o crescimento do Brasil, afirma o economista Ricardo Amorim

 
O Brasil ganhou um bilhete premiado da Megasena para retomar o ciclo de crescimento econômico. Só não pode fazer como muitos ganhadores que gastam tudo, sem investir no que é necessário. Essa foi a conclusão de Ricardo Amorim, economista e presidente da Ricam Consultoria e um dos apresentadores do Manhattan Connection, que abriu as apresentações do segundo dia do 3º Encontro de Resseguro com a palestra “A economia Brasileira e suas perspectivas”. Ele traçou um panorama sobre os fatores que explicam o crescimento acelerado recente, a queda desses índices de crescimento a partir de 2011 e o que os próximos anos reservam para o país.
 
“O modelo econômico vai mudar, quem quer que vença as próximas eleições”, vaticinou o economista. Ele lembrou que não foi o rigor em por as coisas em ordem que explica o crescimento excepcional no período 2004 a 2010, quando o Produto Interno Bruto avançou a uma média anual de 5% – o equivalente a 2,5 vezes mais que a média dos últimos 20 anos. Para Amorim, o Brasil foi condenado a crescer nesse período como resultado de um cenário econômico favorável ao país.  A questão a se analisar é por que razão o país deixou de crescer a esse ritmo a partir de 2011.
 
“As projeções anunciadas esta semana pelo Fundo Monetário Internacional apontam para taxas de crescimento em 2014 de 7,5% para a China, 5% para os demais emergentes, 3,9% para a média mundial, 2,8% para os EUA e 2,5% para a América Latina.  Para o Brasil, a projeção é de um crescimento de 1,8% e, na minha opinião, temos mais chance de reduzir do que ampliar essa taxa. E é fácil ser pessimista, pois somos fracos em educação e infraestrutura. No ano passado, o Brasil investiu 2,5% do PIB em infraestrutura. A China investiu 13%. Em um ano, a China constrói o equivalente a toda a nossa infraestrutura”, alerta Amorim.
 
Ele destacou que essas deficiências não se dão por falta de recursos, pois o Brasil é o terceiro país onde mais se paga impostos. A questão é que os recursos não chegam aonde deveriam. A burocracia é outro problema. Amorim citou o Relatório Doing Business, do Banco Mundial, que aponta o país na 131ª posição entre 132 nações avaliadas considerando-se quesitos como tempo dispendido para se pagar impostos  – 2,5 mil horas no Brasil ante a média de 176 horas -; o tempo de abertura de empresas – 106 dias no contra 5 dias no Chile. “Outro questão é a corrupção. Estima-se que R$ 100 bilhões sejam desviados para a corrupção, um volume maior do que o que país investe em infraestrutura”, diz o economista
 
Para Amorim, o que explica o desempenho da economia mundial e brasileira nos últimos anos é o fenômeno chinês que teria mudado o curso dos rios, trazendo do interior a população rural para trabalhar nos centros urbanos com uma renda cinco vezes maior. O crescimento chinês necessitou da matéria prima exportada pelo Brasil. Na outra ponta, a abundância de mão de obra chinesa fez os custos dos produtos caírem e o Brasil pôde pagar menos pelos produtos manufaturados que importa.
 
Além disso, o custo do capital disponível no mundo também ficou mais barato, com os países em desenvolvimento praticando taxas de juros de 0,2%.  O Brasil também teria se beneficiado de uma atração de bons profissionais. Estima-se que 600 mil brasileiros expatriados no período de fuga de cérebros tenham retornado ao país. Não é difícil atrair trabalhadores qualificados com uma taxa de 85% de desocupação na Grécia de jovens até 25 anos, número que chega a 80% na Espanha e 70% na Europa.
 
Outro fator positivo para o Brasil é a questão demográfica, com a redução das taxas de natalidade. O número de brasileiros de 0 a 15 anos é 5,5 vezes menor do que há dez anos. Assim, há mais gente produzindo e menos gente para ser sustentada.
 
“Com isso, o crescimento recente do Brasil pode ser explicado pela mudança do curso dos rios promovida pela China e pela mudança demográfica. Mas não foi apenas o mundo que ajudou. Também tivemos fatores de produção favoráveis. Estima-se que 18,5 milhões de pessoas a mais passaram a trabalhar. O desempregou caiu de 12% em 2000 para 5% em 2013. Mas estes fatores favoráveis acabaram. Para aumentar a produtividade, temos de investir em capacitação, máquinas, equipamentos e em infraestrutura”, recomenda. Quanto às oportunidades, ele considera que estão se movendo das capitais para o interior. E cita dados como o fato de o número de empregos crescer 2,5 vezes mais que na capital. “O problema é como chegar ao interior, com a falta de infraestrutura”, ressalva.
 
Traçando as perspectivas futuras ele descarta a possibilidade de o país estar vivendo uma bolha imobiliária e de crédito. Lembrou que enquanto o Brasil constrói 400 mil novas moradias; a China constrói 22 milhões, observando que a população chinesa não chega a ser sete vezes maior que a brasileira e ele estão construindo 55 vezes mais moradias.
 
“Eu estudei 97 bolhas que o ocorreram nos últimos 100 anos. Elas sempre estiveram associados a muito crédito, que sempre foi maior que 50% do PIB. No Brasil, o crédito está em 8% do PIB”, distinguiu Amorim. Ele também considera que, ao contrário do mercado que aposta que o ciclo de aumenta das taxas de juros já se encerrou, os juros vão continuar subindo.
 
 

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