10/2023
Jornal do Comércio / Bárbara Lima
Economista Ricardo Amorim (meio) esteve presente no 1º Encontro de Mobilidade Global, em São Paulo
A guerra entre Israel e Palestina deixou, até o momento, milhares de mortos. Além das irreparáveis perdas humanas, o conflito também pode afetar a economia mundial e a brasileira.
A avaliação é de Ricardo Amorim, reconhecido como o economista mais influente do Brasil pela revista Forbes. Na última terça-feira (10), no 1º Encontro de Mobilidade Global – Imigração e Oportunidades de Investimentos promovido pela assessoria de imigração D4U, em São Paulo/SP. Amorim falou sobre os desafios econômicos e destacou as oportunidades de investimentos em períodos turbulentos como o atual.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, o economista disse que a guerra entre Israel e Palestina impacta o mundo e, por consequência, “impacta o Brasil”, enfatizou. Na visão dele, momentos de incerteza deixam as empresas mais receosas para investir, o que prejudica o desenvolvimento de empregos, diminuindo o consumo e o desenvolvimento econômico. “As preocupações com as incertezas crescem e a quantidade de investimentos produtivos caem. Com um futuro mais difícil, as empresas não fazem grandes investimentos, como a construção de uma nova fábrica, por exemplo. Não tem construção, não tem contratação de um grande número de operários”, ponderou o economista. Também ressaltou a importância de diversificar os investimentos em períodos de instabilidade, recomendando investimento em títulos de tesouro americano de curto prazo de vencimento.
Confira a um outro trecho da entrevista abaixo.
Jornal do Comércio – Como a guerra entre Israel e Palestina impacta o Brasil economicamente?
Ricardo Amorim – A guerra entre Israel e Palestina impacta o mundo. Se impacta o mundo, impacta o Brasil. Primeiro, porque aumenta as preocupações. Sempre que as incertezas crescem, a quantidade de investimentos produtivos cai, e as empresas, preocupadas que o futuro pode ser mais difícil do que elas imaginavam, adiam investimentos grandes. Isso faz com que a economia fique mais fraca. Se a empresa não faz um grande investimento, não tem construção, não tem a contratação de muitos operários.
Sempre que a incerteza aumenta, a economia sente. Além disso, o mercado de petróleo pode ser muito impactado se o Irã se envolver a fundo na guerra. A guerra não se limita a Israel e ao Hamas, mas a quem apoia o grupo. Se o Irã se envolver, podemos ter alta forte do petróleo. Em um momento em que a inflação na Europa e nos Estados Unidos está muito alta, isso vai exigir alta de juros nos países, o que pode levar a um crescimento menor nesses lugares, impactando também o Brasil.
No pior dos cenários, poderíamos ter uma crise financeira no mundo todo.
JC – Nesse cenário de incertezas, o que diria aos investidores?
Amorim – Os conflitos aumentam as incertezas. Nesses casos, normalmente o que os investidores fazem é buscar alternativas mais simples e líquidas. Ou seja, alternativas que os investidores podem colocar e retirar o dinheiro mais rápido. O ativo que mais se beneficia são os títulos do tesouro dos Estados Unidos, mesmo quando o país está numa situação mais vulnerável, como foi com a bolha americana em 2008 (e a grande recessão global). Nesse caso é bom diversificar e aumentar a alocação de investimentos em título americano, e a melhor opção é nos títulos de vencimento de curto prazo, porque os EUA estão com juros e inflação elevada. Quanto mais elevada a taxa de juros, mais o valor do título tende a cair e eles caem ainda mais quando o vencimento do título é maior. Então, por um lado é uma boa forma de defesa contra a crise global, mas caso essas tensões bélicas se tranquilizem e você apostar nos títulos de prazo muito longo, você sairá prejudicado. Os de curto prazo trazem proteção sem risco.
JC – No caso do Brasil, como é possível reduzir a taxa de juros?
Amorim – A taxa de juros é um instrumento para controlar a inflação, fundamentalmente para segurar a economia quando a inflação está muito alta. Isso encarece o crédito e faz com que as empresas não consigam vender, e a inflação fica controlada. Quando a inflação é baixa porque a economia é muito fraca, o nível da taxa de juros pode ser derrubado e o crédito pode ser expandido para incentivar a compra. No Brasil, o governo precisa criar uma regulamentação que incentive a produtividade, reduzir a burocracia e carga tributária, o que pede um equilíbrio nas contas públicas. Tem que gastar menos, é a forma mais efetiva de ter crescimento e juros baixos.
O governo brasileiro gasta mal, os produtos são caros, a inflação é alta, os juros são altos, e a população fica mais pobre.
JC – Durante sua palestra, falou que Portugal é um dos melhores países para brasileiros migrarem. Por que?
Amorim – Ultimamente, a Europa tem sido a região que menos tem crescido. Portugal tem se destacado do resto da Europa, pois tem um forte desenvolvimento econômico puxado por uma indústria de inovação pujante, um mercado imobiliário mais ativo em relação a outros países do continente. Além disso, Portugal e Brasil são muito conectados, fazem muitos negócios. Muitos brasileiros investem em Portugal e geram empregos, o que impulsiona a economia portuguesa.
Quer receber meus artigos por e-mail? Cadastre-se aqui.