06/2011
Por Ricardo Amorim
No início deste ano, renasceu das cinzas um antigo fantasma que parecia morto e enterrado: o dragão inflacionário. Em parte, o monstro se nutriu de uma significativa alta do preço dos alimentos causada pelo crescimento do consumo global e, em alguns casos, quebras de safras agrícolas. Como a política monetária não produz alimentos, nem faz os chineses comerem menos, nosso Banco Central optou pela timidez no combate ao monstro.
Como resultado, a inflação continuou em elevação. Por fatores sazonais e uma possível retração dos preços dos alimentos, até é provável que a inflação caia nos próximos meses, mas não que ela volte aos níveis anteriores a sua elevação.
Há outra fonte de pressão inflacionária que não está sendo levada suficientemente a sério: um crescimento de dois dígitos do consumo, que a expansão de nossa oferta não consegue acompanhar.
Na realidade, além da timidez do Banco Central na alta dos juros, há outro fator fundamental reforçando o desequilíbrio entre oferta e demanda: a gastança pública, que eleva a demanda agregada no país. O ideal seria que o governo cortasse significativamente os gastos e, assim, os juros não tivessem que aumentar.
Como isto, infelizmente, não deve acontecer, melhor seria lidar com o dragão inflacionário agora, que ele ainda está meio dormente depois de um período hibernando, do que dar-lhe a chance de, pouco a pouco, retomar as energias, exigindo doses muito maiores do amargo remédio dos juros no futuro. Pior, se não agir agora, o BC pode ter de fazê-lo às vésperas das eleições municipais, quando as condições políticas serão muito piores.
Enfim, se não quiser colocar em risco seu desempenho nas eleições municipais ou depender de uma nova crise global para desacelerar a economia brasileira e domar o dragão da inflação, é bom o governo colocar as rédeas no bicho o mais rapidamente possível.