Economista Ricardo Amorim fala sobre aumento de juros na China.

 14/12/2010

Priscila Dadona

Aumento de juros na China é uma questão de tempo

 

 Segundo especialistas, a alta do compulsório ajuda, mas não resolve a questão da demanda aquecida e da alta da inflação
A China contrariou os temores do mercado e postergou o aperto monetário. Em vez de elevar os juros, o Banco Central do gigante asiático concentrou seus esforços no aumento de 0,5 ponto percentual do compulsório, anunciado na última sexta-feira. Embora a decisão do BC chinês tenha animado as bolsas ontem, os especialistas seguem afirmando que ela é necessária e que o “alívio” é momentâneo.
“Não tem solução. O BC chinês vai ter de elevar os juros”, reforça Marcelo Ribeiro, sócio da Pentágono Asset Management. Isso ocorre porque, de acordo com Ribeiro, a inflação, puxada principalmente pelo preço dos alimentos, já está fora de controle. O índice de preços ao consumidor— principal indicador de inflação na China—
atingiu 5,1% em novembro, maior patamar dos últimos 28 meses. “Vai haver consequências ruins se o BC segurar ainda a decisão de aperto monetário”, enfatiza Ribeiro.
Para piorar a situação, o Federal Reserve (banco central americano) prometer ser ainda mais agressivo no afrouxamento monetário (quantitative easing) e a injeção de mais dinheiro novo é uma das hipóteses, o que provocaria ainda mais desvalorização do dólar e elevação nos preços das commodities. Nomês passado, o Fed injetou US$ 600 bilhões. “Para os EUA, a postura não é impactante porque as commodities não compõem os índices de inflação, mas isso atinge diretamente os países
emergentes”, diz Ribeiro.
O economista Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria, cita além da aceleração dos preços a expansão da demanda chinesa como um fator adicional de pressão. “Nada vai mudar sem uma decisão. Eles serão forçados a elevar os juros.”
Um movimento maior no uso do compulsório pela China para frear o crédito antes da elevação nos juros não é descartado. O aumento adotado na sexta-feira foi o sexto este ano. “O compulsório tem efeito imediato na comparação com os juros e diminui um pouco a valorização do iuane”, afirma Homero Guizzo, economista da LCA. O especialista projeta o aperto monetário deve ocorrer até o final de janeiro. “De fevereiro não passa”, acredita.
 Modelo brasileiro
Para os especialistas, a China está querendo ganhar tempo antes de elevar novos juros, assim como fez o Brasil antes da última reunião do Copom. Segundo Amorim,o Brasil não será poupado. “Será um choque na economia global”, avalia Amorim.
Ribeiro, da Pentágono, diz que em2008 se acreditava que a quebra do Lehman Brothers não contaminaria países dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). “Foram pontualmente os que mais perderam. A Bovespa foi a segunda bolsa que mais caiu.”
Para Amorim há, no caso brasileiro duas forças contrárias: uma para cima e outra para baixo. “O dólar fraco fortalece as commodities, e alta dos juros na China diminui as importações”, diz.
Cautela
Para o professor do Insper, Otto Nogami, a cautela e a prudência chinesa foram os motivadores da opção pelo compulsório antes de uma elevação nos juros. “A sociedade demora para absorver uma elevação nos compulsórios, apesar de a alta ser imediata para os bancos”, explica o economista. No caso brasileiro, no entanto, Nogami é mais taxativo. “Se o o atual governo liquidasse o problema e já tivesse aumentado os juros, o próximo já assumiria com um controle maior [da inflação]”.

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