06/2019
Por Ricardo Amorim
Fico imaginando Luís XVI, o último rei antes da revolução francesa, viajando no tempo e desembarcando em Brasília, hoje. Ele se sentiria em casa. Encantado com alguns aperfeiçoamentos que fizemos a seu sistema de governo, talvez, até resolvesse se mudar para cá.
Para ele, Brasília talvez fosse uma versão moderna, só um pouquinho mais árida, de Versalhes, sede do poder francês na sua época e para onde as riquezas de todo o país migravam. A incapacidade da nobreza do Planalto de compreender a realidade do resto do país certamente lhe seria familiar.
Logo, ele reconheceria a toda poderosa família real, as decisões intempestivas do rei e seus príncipes-pimpolhos, e os alegres conselheiros reais. Provavelmente, estranharia que o mais influente conselheiro real vivesse na Virgínia, nos Estados Unidos.
No Congresso, Luís XVI veria a corte, suas mordomias e a convicção de que as regras que valem para os demais não têm de valer para os nobres. No funcionalismo público veria a aristocracia moderna, sustentada pela riqueza produzida pelo povo, mas pouco sensível a suas mazelas.
Seriam as lagostas do STF os famosos brioches de Maria Antonieta? E as dezenas de bilhões de reais pagas anualmente a funcionários públicos, inclusive aposentados, independentemente de seus resultados e que recebem o nome de bônus de desempenho, “isto, nem nós tivemos”. E os auxílios moradia, creche, paletós, livros, esposas, filha solteira e cachorro com cinco patas, “como nunca pensamos em algo assim?”
A notícia da falência do setor público por excesso de gastos lhe soaria familiar; a decisão de excluir o funcionalismo estadual do duro ajuste da Previdência necessário para evitar que o país colapse, provavelmente mais ainda.
A Revolução Francesa aconteceu há 230 anos, mas a julgar pelo comportamento dos políticos e do setor público brasileiro, a notícia ainda não chegou a todos por aqui. Seria prudente que chegasse. Mais prudente ainda seria que nossos políticos aprovassem uma Reforma da Previdência ampla, profunda e que atinja com firmeza nossa corte, nossos nobres e nossa aristocracia antes que Robespierre e o diligente médico Guillotin pensem em viajar na máquina do tempo também.
Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro entre os melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner, ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças, presidente da Ricam Consultoria e cofundador da Smartrips.co e da AAA Plataforma de Inovação.
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