01/2016
Por Igor Ribeiro
Foto: Ricardo Correa
O economista Ricardo Amorim tem defendido publicamente que 2016 não será tão terrível para os brasileiros quanto se tem esboçado.
Segundo o debatedor do Manhattan Connection, a crise política deve ser solucionada no decorrer do ano, destravando diversas pautas importantes para o País, principalmente no campo da economia.
Para o planeta, porém, a longo prazo, uma pane na conjuntura internacional consequente do desgaste do modelo capitalista é inevitável.
Ele também comenta sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o crescimento da economia colaborativa e o seu projeto na área de educação.
Para retomar o ajuste fiscal, é fundamental que o Banco Central continue independente, ao contrário do que era debatido às vésperas da última eleição?
Sem dúvida nenhuma. Na prática, o Banco Central no primeiro mandato da Dilma não era independente. Era subordinado ao Ministério da Fazenda e, por sua vez, à presidente. Como o governo não queria, antes das eleições, frear a economia para não impactar as urnas, o Banco Central segurou os juros em níveis mais baixos, o que acelerou a inflação. Foi aí que a coisa começou a ficar feia, explicando também o quadro em que vivemos hoje.
Acredita que o impeachment passa?
Acredito que a probabilidade de a Dilma não terminar o mandato é maior do que o contrário. Impeachment é uma das possibilidades. A outra é renúncia. E tem a possibilidade de desaprovação das contas no TSE e a eleição ser impugnada, caindo a Dilma e o Temer. Cenário para ela ficar é um só: derrubar isso tudo. Mas acho que a possibilidade de ela cair num desses três caminhos é maior.
Autores como Elinor Ostrom, Nobel de economia de 2009, e Jeremy Rifkin, da Universidade da Pensilvânia, têm chamado a atenção para a força da economia colaborativa. O professor inclusive defende, no livro “Sociedade com Custo Marginal Zero”, a substituição integral do capitalismo por esse sistema em meados deste século. Como analisa a questão?
“Substituir” eu não compro. Acho que o capitalismo vai viver uma ou duas décadas, a probabilidade é gigantesca. E nesse período vamos atravessar a crise global mais drástica que já vivemos. Historicamente, quando ocorrem esses momentos cíclicos e a economia do país piora, nos países desenvolvidos o governo consegue fazer medidas na direção oposta. É o que chamamos de política fiscal expansionista. Cortam-se impostos ou aumentam-se gastos do governo para dar uma melhorada e faz política monetária anticíclica. Reduz a taxa de juros, estimula o crédito e faz com que a economia cresça mais. Há pelo menos 80 anos, é com esses estímulos que você revive um doente. Hoje, os países ricos estão chegando no limite de utilização dos dois modelos de estímulo, pois eles têm dívidas públicas gigantescas. A dívida pública brasileira é só 70% do PIB, enquanto a do Japão é de 220% e a dos EUA é de 140%. Em relação ao tamanho da economia, eles devem muito mais do que a gente. Mas lá a coisa ainda funciona porque a taxa de juros é pequena, logo o custo da dívida é muito baixo. Mas a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, é de 14,25%, quando a média mundial é de 0,2% ao ano. O problema é que em 20 países a taxa de juros já é, hoje, negativa. Ao colocar dinheiro no banco, quando você vai buscar tem menos do que quando depositou. A contrapartida é que o custo do crédito nesses mercados é baixíssima, pois o banco que está captando a -2% consegue emprestar a um custo quase zero e ainda assim ganhar dinheiro. E dinheiro a custo zero gera crédito. Mas não dá para imaginar que cheguemos num ponto em que os bancos vão emprestar taxa de juros negativa, logo, não dá para baixar mais o custo do crédito, nem para dar estímulo pelo lado monetário. Não vai acontecer de, à porta da crise, baixar o juros para movimentar o consumo. Sobrou o lado fiscal, que também está podre.
Logo, uma grande crise conjuntural não encontrará novas saídas?
Talvez na próxima dê para empurrar um pouco, pois alguns países ainda possuem uma política fiscal melhor que outros. Mas na seguinte, talvez dez anos ou um pouco mais, veremos uma crise lá fora de proporções que nunca vimos. A de 1929 parecerá fichinha. Quando isso acontecer, vão ter de achar outro modelo. Acredito, sim, que a economia colaborativa ganhará cada vez mais espaço. Se vai substituir ou se incorporar a esse modelo, ou se vai nascer um híbrido, não sei. Mas não tenho dúvida nenhuma que vai vir mudança. O Uber e o Airbnb, por exemplo, se aproveitaram da soma do que é estrutural – o menor apego das pessoas sobre um carro ou uma casa – com o conjuntural. Ou seja, se não tivesse acontecido a crise com aquela gravidade (em 2008), com pouco dinheiro no bolso, será que eles teriam se predisposto a experimentar esse outro modelo? Depois que experimentou, gostou.
Além das palestras, você pretende estruturar um projeto de ensino. Do que se trata?
Estou criando um modelo de curso voltado para educação de executivos que quero transformar, como projetos e cursos de alguns anos, também em algo para herdeiros de grandes grupos empresariais. Depois, levar até para escolas públicas e cursos in company. O modelo de educação no mundo está errado, continuam ensinando com um monte de gente sentada em cadeiras e despejando informação. Mas conteúdo hoje está disponível cada vez mais rápido, e o problema não é falta. É excesso. Quais são as habilidades que levam as pessoas a terem sucesso? Primeiro é atitude empreendedora. Então é um curso para desenvolver essas atividades. O primeiro curso é voltado para a melhora no processo de decisão e devo iniciar ainda em 2016.