Entrevista de Ricardo Amorim ao Blog da Folha de São Paulo sobre semelhanças entre endividamento países e de famílias.

Blog Ganhar, guardar, gastar
14/11/2011
Por Denyse Godoy

Dívidas de países e dívidas de pessoas
 
Tem-se a impressão de que os governos podem gastar indefinidamente, mas a atual crise na Europa –a qual, dizem os especialistas, pode custar à região uma década de crescimento– nasceu, em essência, do descontrole de determinadas nações.
 
Por anos, Grécia, Itália, Portugal, Irlanda e Espanha torraram bem mais do que arrecadavam com os impostos, e, a fim de fechar essa conta, precisavam pegar dinheiro emprestado.
 
Da mesma maneira, muitas famílias pensam que conseguem viver sempre alavancadas, para usar o jargão do mercado financeiro. Fazendo despesas superiores à sua renda, sustentam-se com o cheque especial, o cartão, as modalidades de crédito ao seu alcance.
 
País nenhum existe sem dívidas, e os financiamentos também são bastante úteis aos consumidores.
 
“Em ambos os casos, a diferença entre o saudável e o prejudicial está na aplicação dos recursos captados”, esclarece José Geraldo de Mello, professor de economia da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). “Uma usina hidrelétrica que será utilizada pelas próximas gerações sem dúvida é um bom objetivo, assim como, para um jovem profissional, um curso de pós-graduação que lhe proporcionará um emprego melhor. Trata-se, na verdade, de investimentos.”
 
O tratado de Maastricht, que formou a União Europeia, estabelece um teto de 60% do PIB (Produto Interno Bruto) para o endividamento dos seus membros; os bancos igualmente definem montantes máximos de comprometimento do salário dos seus clientes em operações de crédito. Esses limites são facilmente ignorados, no entanto.
 
Problema existe quando o dinheiro dos empréstimos é direcionado à manutenção cotidiana da estrutura: o pagamento dos funcionários públicos ou a fatura do supermercado. A bola de neve só aumenta mês a mês, pois os dispêndios não cessam.
 
“Pessoas e empresas quebram mais rápido do que governos, porém esse é um destino inescapável”, frisa Angela Menezes, professora do Insper.
 
Quando o orçamento fica totalmente fora dos trilhos, resta apenas cortar despesas e tentar renegociar os débitos. Roma, por exemplo, precisará vender algumas de suas companhias à iniciativa privada para, com os valores obtidos, abater pendências.
 
Apertar os cintos, elevando a idade mínima para aposentadoria ou reduzindo direitos trabalhistas, leva a revoltas como as que tomaram as ruas de Atenas por diversas vezes neste ano.
 
Entretanto, não existe outro jeito de convencer os credores a manter as torneiras abertas. A desconfiança já os faz aumentar demais os juros cobrados nas transações, empurrando o devedor para mais perto do precipício.
 
A última hipótese é dar o calote. E foi justamente na inadimplência dos mutuários americanos que esta confusão começou, entre 2007 e 2008.
 
Explica o economista Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria: “No momento em que os clientes de financiamentos imobiliários, nos EUA, deixaram de honrar suas prestações, os bancos, apavorados, pararam de conceder crédito às empresas. Tanto as instituições financeiras quanto as companhias então pediram socorro à gestão pública, transferindo-lhes as suas dificuldades. Só que os governos são o final da linha, não têm a quem repassar a bomba. Em suma, a situação agora é horrível”.

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