Brasil, o novo celeiro do mundo.

 
Escrito por Administrator   
Sex, 14 de Maio de 2010 09:40
 

Por: Rose Domingues

A população mundial chegará a mais de 9,2 bilhões em 2050, segundo a ONU. Você já pensou em quem vai produzir comida para tanta gente? É uma dedução simples: quem tem água doce e terra fértil em abundância. E claro, um solo abençoado por Deus e rico em minério

Poderia até ser uma profecia apocalíptica de Nostradamus, mas as previsões sobre uma nova ordem planetária têm partido de especialistas encarregados de analisar as tendências econômicas mundiais. Não tem nada a ver com numerologia, nem astrologia, mas com o novo ouro do milênio: capacidade de produzir comida, biocombustível e reservas naturais de água doce. Apesar de atrasado em logística de transporte, o Brasil reúne inúmeras condições favoráveis para ser a grande locomotiva do momento, ao lado da China e da Índia. Possui área produtiva equivalente a 33 países europeus. Números da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que a área ocupada com produção é em média 50 milhões de hectares, porém o potencial pode chegar a 450 milhões de hectares. Traduzindo, ele dá conta de alimentar o mundo com carne (boi, aves e suínos) e grãos (soja, milho). Além disso, tem também um subsolo abençoado por Deus e repleto de minério.

Sem fazer rodeios, o economista Ricardo Amorim, que é apresentador do Manhattan Connection (GNT) e do Economia e Negócios (Rede Eldorado), e presidente da Ricam Consultoria, dispara que o agronegócio é a grande virada. O país já é importante no cenário mundial; do 5° lugar no ranking de maior produtor de grãos já chegou ao 3° lugar, encostando-se aos Estados Unidos, que é o primeiro. Mas, antes, precisa mudar sua autoimagem ainda muito frágil. Quer saber como fazer? Vire o mapa mundo ao contrário. “Engraçado, ninguém caiu”. Aquela leitura habitual, em que Europa e Estados Unidos estavam no topo, é a forma antiga de se olhar. Está no retrovisor. Não se enxerga mais assim nem no presente. “Tem algum produto que supere a comida em consumo em massa? Portanto, preste atenção aos pobres, pois são eles que irão comprar”.

Ele explica que Xangai até 2020 terá 40 milhões de habitantes morando em cidades devido a um grande êxodo rural na China. Quando o ciclo de crescimento deles acabar começa o indiano de migração em massa para as áreas urbanas. “Rezem à China”, brinca o consultor que prevê mais três décadas bastante favoráveis para o Brasil, que de credor externo já emprestou recentemente dinheiro até para o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Realmente, o mundo está de cabeça para baixo”. Embora uma supercrise europeia esteja no meio do caminho, as oportunidades chegarão a médio e longo prazo, por isso é necessário enxergar as chances que surgirão em meio ao caos e usá-las a favor. Uma virada como esta acontece uma vez na vida. “Os sojicultores podem se dar bem, tanto em volume, quanto em preço”.

*O consultor foi um dos palestrantes trazidos pelo 5º Circuito Aprosoja, realizado entre os dias 19 de abril e 7 de maio. Cerca de 4 mil pessoas participaram do evento em 19 cidades do interior de Mato Grosso. O objetivo é ajudar no planejamento da safra 2010/2011.

E o dever de casa?

Amorim é otimista com relação à efetivação da infraestrutura no país. As obras acontecerão inevitavelmente. Além das razões óbvias, como Copa do Mundo e Olimpíadas, grandes empresas começaram a abrir capital na bolsa brasileira e forçaram fornecedores a fazerem a mesma coisa. Isto significa que se o Brasil cresce a 5% e a arrecadação de impostos a 15%, os investimentos tendem a se multiplicar também. Outro ponto importante, aí entra a China novamente. Hoje os chineses acumulam US$ 2,7 trilhões em reservas. Para diversificar, eles terão que aplicar nos países emergentes, justamente em infraestrutura. Não há dúvida de que o Brasil será um dos beneficiados com pelo menos 10% dessa soma, ou US$ 27 milhões. “Não vamos acreditar na cara do país daqui a 10 anos. Serão anos complicados, de muitas mudanças, mas transformadores”.

Sim, Cristo redentor virou um foguete! Se nas últimas duas décadas o país minguava um crescimento econômico de apenas 2,4% anuais, com uma crise na década de 80, nos últimos cinco anos a média dobrou. “Correr ladeira acima é difícil”, brinca Amorim. Claro que os Estados Unidos e os demais países mais ricos do mundo dão uma goleada em logística, porém a regra do jogo já mudou. Os “donos da festa” estão mal das pernas, tanto que, para não ficar de fora da badalação, eles transformaram o G8, que é um grupo internacional que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) mais a Rússia – em G20. Brasil, China, México e África do Sul, óbvio, estão incluídos. “Quem poderia imaginar ver o presidente Lula sentado e fazendo pose ao lado da rainha da Inglaterra?”.

Crise europeia

Os sinais de que algo está errado são de agora. Com a quebradeira dos EUA, agora é a vez de uma crise sem precedentes no Velho Continente. A tragédia grega é apenas o início do acirramento das tensões. O consultor explica que a dicotomia entre políticas monetária e cambial idênticas e políticas fiscais independentes se sustentou até aqui por duas razões: dinheiro abundante e vistas grossas dos investidores. Além disso, até 2007, estes desequilíbrios eram bem menores. Mas, desde o colapso norte-americano, a preocupação com a quem empresta se tornou fundamental. “As dívidas dos ‘porcos’ europeus (da sigla PIGS), iniciais de Portugal, Irlanda/Itália, Grécia e Espanha em inglês, são tão grandes que uma salvação vinda da única economia grande e sólida da Europa, a Alemanha, talvez só agrave o quadro”.

Outro ponto complicado. Como convencer um trabalhador alemão de 67 anos a sustentar o sistema de previdência da Grécia onde alguns se aposentam aos 54 anos? Ou a zona do euro se despedaça ou a crise da dívida pública europeia vai piorar muito. Provavelmente, os dois. Claro que não é possível acontecer recessão nas maiores economias do mundo sem que respingue sobre o resto do mundo. Mas hoje o impacto é pequeno em razão da perda de importância gradual de cada um deles e o ganho de imponência da economia asiática – e brasileira, por que não? – na última década. De 2007 para 2010, mais de 8,5 milhões de empregos sumiram dos EUA. Eles estão literalmente quebrados. No entanto, houve crescimento da disponibilidade de empregos na China, Brasil e Índia. “Então a crise não é global e sim dos países ricos. A coisa se inverteu ao nosso favor. Será que foi a virada do milênio?”.

Megaoportunidades

Amorim dá um recado diante da perspectiva de “quebradeira geral”. As orientações são a curto e longo prazos aos produtores brasileiros. Nos próximos seis a 12 meses, a expectativa é que haja alta do dólar, o que pode interferir na queda dos preços das commodities e nos financiamentos, realizados pelo menos pelos produtores de Mato Grosso em dólar. Neste momento, peço a todos muita cautela, comportamento defensivo e muito planejamento, de repente, vale a pena deixar o câmbio solto e travar o câmbio pelo menos de uma parte da produção. “Outra coisa: não se endividar. Atrasar a compra do fertilizante pode ser algo interessante, pois com a crise na Europa os preços irão despencar neste período. Além de planejar bem o aqui-e-agora, pode ser um excelente negócio usar a crise para verticalizar a cadeia produtiva”.

Os brasileiros precisam aproveitar a disponibilidade de capital para financiar a juros mais baixos. Sobre Mato Grosso, o consultor explica que talvez leve mais alguns anos para que as condições totalmente favoráveis se materializem. É que investimentos em infraestrutura demoram um pouco mais de tempo para se materializar, mas uma vez com um transporte mais barato, o preço será um dos mais competitivos do país. Agora não adianta ficar esperando que o próximo presidente do país, seja Dilma Rousseff ou José Serra, irá segurar o câmbio porque isso gera inflação, sinônimo de baixa popularidade. Sarney começou o mandato como presidente com o maior índice, 90% de aceitação. Mas devido à inflação que superou 2,7 mil por cento, nem conseguiu eleger sucessor. Com FHC, a inflação chegou a 17% e a popularidade despencou. “Os produtores devem cobrar melhorias na infraestrutura, de resto, será uma luta sem sucesso”.

Leia entrevista na íntegra.

LinkedIn
Facebook
Twitter

Relacionados