O país do caminhão-silo

 

Man Magazine

05/2013

Por Ricardo Amorim

O país do caminhão-silo

 
Nos últimos 10 anos, o crescimento médio do PIB no país foi 50% mais acelerado do que nos 25 anos anteriores, mas a estratégia de crescimento que permitiu este resultado chegou a seu limite.
 
O Brasil se beneficiou de uma forte elevação do preço de matérias primas que exporta e queda do custo do capital que importa, o que permitiu um boom de crédito e consumo no país.
 
Usando recursos ociosos – mão de obra desempregada e infraestrutura existente – crescemos a partir da expansão da demanda externa – causada pela fome chinesa por matérias primas – e interna, devido à expansão da renda e do crédito no país.
 
O problema é que não há mais nem mão de obra nem infraestrutura ociosas. O desemprego é o mais baixo da história e o uso da infraestrutura está no limite. Por conta de um sistema educacional ineficiente, o país não aumentou a produtividade da mão de obra, que ficou mais cara à medida que o desemprego caía e os salários subiam.
 
Da mesma forma, medidas do governo reduziram significativamente a lucratividade de vários setores, como o elétrico, financeiro e petrolífero, assustando empresários de todos os setores e levando-os a cancelar planos de investimentos.
 
Em paralelo, a baixa capacidade de execução do setor público de investimentos em infraestrutura impediram tais investimentos de se materializassem, particularmente no setor de transportes.
 
Resultado? As filas de navios e caminhões nos portos parecem não parar de crescer. No porto de Santos, as filas de caminhões chegam a 12km. Na prática, o Brasil tem transformado caminhões parados em filas no porto em silos. De meio de transporte os caminhões se transformaram em sistema de armazenagem.
 
Uma medida óbvia foi recém anunciada. Os portos do Rio de Janeiro, Santos e Vitória passaram a trabalhar de forma ininterrupta 7 dias por semana, 24 horas por dia. Isto não acontecia porque diversos órgãos públicos envolvidos no funcionamento dos portos apenas trabalhavam em horário comercial.
 
Esta medida não substitui investimentos em expansão e melhoria de nosso sistema de transporte portuário, mas mostra como, às vezes, desengargalar o país pode ser muito mais simples do que normalmente imaginamos.
 
Ricardo Amorim
Apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo o site Klout.com.
 
 

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